sábado, 3 de outubro de 2009

Ideias que desafiam o senso comum, autores que escrevem sobre o nada...

Por Ramayana Torres

A nossa literatura carece de grandes autores que saibam tecer bem histórias sobre o nada. Pode soar estranho ou mesmo paradoxal, mas, só assim uma gigantesca parcela da população que ainda não começou a enveredar pelos deliciosos caminhos literários será atingida.
Infelizmente, como se sabe o brasileiro lê pouco e em grande parte por causa dessa falta de escritores nacionais que saibam escrever sobre temas corriqueiros, mas agradáveis ao leitor. As novelas estão aí para provar.Cada vez mais aumenta o número de telespectadores que as assistem na ânsia de se entreterem com uma grande quantidade de nada.É claro que há aí, nesse contexto, uma gana por contemplar uma vida, às vezes, tão distante da real ou tão próximo dela.Mas há, também, essa grande vontade de entreter-se com nada.De não ter que pensar, talvez não por preguiça, e sim como uma “válvula de escape” ao estresse diário.
É também pelo mesmo motivo que os filmes de ação e aventura são os mais bem cotados da indústria cinematográfica de Hollywood. O ser humano necessita tanto de momentos de reflexão e sapiência quanto de entretenimento e descanso. Mas, nossos críticos literários parecem não ver isso e continuam crucificando todo e qualquer livro que não traga” um algo a mais”para o leitor.e a população brasileira continua a ler cada vez menos.
Não é apenas por esse motivo, entretanto, que a população tem se afastado dos livros.Além d as, nem sempre, eficazes medidas e estímulos educacionais do governo do Brasil, pode-se perceber nos adolescentes, e por conseqüência nos adultos uma “Macunaíma” preguiça de ler.Isso deve-se não somente aos videogames, mas também, ao grande abismo que há entre a literatura infantil e a adulta.Há uma deficiência de livros que façam a transição entre “O Patinho Feio” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
É exatamente aí que se encaixam os autores que escrevem sobre o nada. Apesar de haver no mercado um seminúmero de obras escritas sobre esse assunto, quase todas são de autores estrangeiros.Não há uma identidade nacional desses livros e, o adolescente de hoje, quando começar a tomar gosto pela leitura, seja lendo Sidney Sheldon ou Tolkien, ao que descobrem os escritores nacionais, desistem por haver metafísica demais para ele.Parece heresia?Pois imagine um garoto que leu apenas um ou dos livros em sua vida abrindo Sagarana, curioso.Seria um trauma.Precisamos de livros que preparem o futuro literário do Brasil(as crianças e adolescentes) para maravilha como essa de Guimarães Rosa.Caso contrário, o choque seria avassalador.

Precisamos nos orgulhar dos nossos bons escritores e livros sobre o nada.Paulo Coelho é um herege, um Judas para a crítica tupiniquim.Por outro lado, J.K Rowling, a autora de Harry Potter, é uma deusa na Inglaterra.Será que o nosso escritor precisaria ter criado um bruxinho de vassouras e varinha para ser agraciado?Ou será que só o fato de ele escrever para o entretenimento e com isso levar a literatura brasileira, não só aos nossos pequenos leitores, mas ao mundo, não seria o suficiente?Ninguém começa a ler por Macunaíma.Temos que nos conscientizar disso.Há um longo caminho até a chegada do gosto e prazer pela literatura de Mário de Andrade, por exemplo.
Não afirmo, porém, que devemos nos limitar apenas à literatura infanto-juvenil ou à voltada para o entretenimento simplesmente. Obviamente, é necessária também uma carga cultural intrínseca.
Deve-se, sim, continuar a aumentar nosso acervo preeminente, mas se não houver uma importante reflexão sobre como instigar a literatura nos jovens, boa parte da população brasileira viverá ou continuará viver às margens da cultura literária. E os videogames venderam cada vez mais!

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